terça-feira, 22 de agosto de 2023

 

A horta das Lameiras

O texto andava na gaveta e fazia parte do meu diário de infância e dos dias de Verão que passava com os meus avós e que com eles ia às hortas.E…depois de há tempos ler o trecho do meu primo Isaías sobre este local voltei ao meu arquivo pessoal.

Naquela noite quente a minha avó Aida (Cordeiro) veio a nossa casa depois do jantar perguntar-me se não queria ir com ela regar à horta das Lameiras ao que eu logo acedi.

Pelas cinco horas da manhã fui acordada pela voz da minha avó:- Oh Aidinha! Aidiiinha! Anda minha filha, levanta-te.

Acabrunhada fui-me vestindo e calçando. Desci as escadas para cozinha e aí já me esperava a caneca de leite com cevada e uma torrada.

- Despacha-te! Olha que o avô já foi há um bom bocado e já deve estar a chegar à horta. Exclamou ela no sentido de me apressar.

Quando desci as escadas de acesso à rua a burra já estava albardada e as portas da adega e da curralada fechadas.Quando desci as escadas de acesso à rua a burra já estava albardada e as portas da adega e da curralada fechadas. Faltava apenas eu. A madrugada estava ainda fria apesar de ser pleno Julho. Agasalhada pelo casaco de malha lá subi para cima da burra e subimos a íngreme rua da Igreja. Eu a cavalo e a minha avó a pé puxando a rédea da burra para a ajudar naquele intervalo da casa da Ti Garcinda, pois ali ela resvalava e de nada valiam as ferraduras pois os paralelos pareciam ter manteiga.

Passando o adro da igreja e chegadas ao triangulo a minha avó montou na burra. Eu escarranchada na frente da albarda e a minha avó sentada na traseira. Subir a estrada até chegar ao cruzamento da Serrinha da Rodela, no corte no Alto de Sto António e fugir dela. A falta dos balidos das ovelhas denunciava que já não estavam na corte ou mesmo até que tinham passado a noite ao relento, aproveitando as belas noites de Verão.

Atravessamos mais uma vez a estrada agora já do lado de baixo da Serrinha e descemos em direcção à horta do Arlindo a caminho da Devesa. Daqui até às Lameiras encontramos quase todos os vizinhos. O caudal do ribeiro era pequeno e até às Lameiras de Cima havia muitas hortas, muito feijão, muito cebolo e muito tomate para regar. A augueira traz água pois os das hortas de baixo madrugavam mais no sentido de obter rega. Fizera-se acordo dos dias de rega e este era já tido por tácito para que todos pudessem ter água na horta. Muitos aí passam a noite como forma de aproveitar o tempo e a água. Uma delas era a Srª Maria Neto, outra a tia Idalina e o Sr. Zé Rito. Os meus avós tinham a sorte de ter um poço na horta de que lhes permitia ter algum desafogo.

Ao clarear do dia chegávamos ao cimo das Lameiras e entretanto eu já tinha saltado do burro para correr pela encosta acima e ver as vistas de toda a Devesa.

Os bons dias começavam ainda de noite pois aqui talvez pela força das encostas do vale a noite era escura. Mas a burra já sabia o caminho de cor e raramente tropeçava nos calhaus. Muitas vezes ouvia a coruja e ao amanhecer a passarada acordava e chilreava pelo caminho. A minha avó sabia identificar todos estes cantos e íamos dizendo.

Ao clarear do dia chegávamos ao cimo das Lameiras e entretanto eu já tinha saltado do burro para correr pela encosta acima e ver as vistas de toda a Devesa.

Entretanto o meu avô Zé António chamava-me acrescentando:

-Então rapariga ! Não vens ajudar a avó a regar? Deixa lá as subidas às árvores por ora, anda cá p’ra baixo ajudar. Vais para o fundo do suco ver quando a água lhe chega.

Gritei: - Já voooooooou! E…desci em escorrega! Uau!

Correr os sucos das batatas de ponta a ponta e…- Já chegou!

Aida olha o sol!? Coloca o chapéu! Anda cá? Não queres lanchar? Toma lá pão com queijo.

No fim da rega já o sol começava a torrar e a minha avó já tinha colocado seu chapéu de palha e, já muitas vezes dissera:

- Aida olha o sol!? Coloca o chapéu! Anda cá? Não queres lanchar? Toma lá pão com queijo.

Ao chamado do chapéu fazia ouvidos moucos mas ao pão com queijo não me dava por rogada e lá ia eu procurar a fardela da merenda.

Agora restava tapar o poço e virar a augueira para o ribeiro.

Oh Zé! Tens horas? Perguntava a minha avó e este colocava a mão em pala no boné, olhava o sol e respondia: - São prá aí onze.

Ou seja horas de colocar pés ao caminho. O sol já ia alto e continuava a queimar. O regresso até ás hortas das Devesas era feito a correr à frente da burra, a saltitar e colher as floritas que me apareciam na berma do carreiro. O meu avô esse iria mais tarde e como estava com o carro das burras faria o percurso da estrada, passando o Salgueiral.


(www.fmsoares.pt)

Carro de Bois e Arado, miniaturas em madeira, oferecido pela Junta de Freguesia de Castelo Branco de Mogadouro (35 x 17 x 18 cm.) Presidência Aberta do Dr. Mário Soares em Bragança (15 a 26 de Fevereiro de 1987)

Curiosidade: Este carro de bois e arado foi feito pelo Sr. Ernesto Silva para a Junta de Freguesia oferecer ao Exmo. Sr. Presidente da República, Dr. Mário Soares

Aida Freitas Ferreira/2010

 

Conheço-te-de-ginjeira!


Não penses mal desta expressão de cariz rural.
É até bom usá-la. Além de querer dizer o bem que te conheço também induz para uma vida no “meio dos montes”. Induz o regressar a “casa”.
Pois é! Há dias lá fui eu para mais uma visita de médico.
Desta vez além das cerejas que também apanhei, as brancas, que são mais tardegas[1], fui às ginjas.
O ano passado, se te lembras falei-te das cerejas do pai Elísio que muito furor fazem por onde passam, seja por terras albicastrenses seja por terras portuenses.
Agora aproveito para falar das ginjas, que também por aqui causam espanto.


Fazem-no porque são difíceis de encontrar à venda nas cidades, mas eu tenho a sorte de o meu vizinho, o Sr. Armando, mais conhecido por Armindo, ter uma ginjeira no quintal que todos os anos se enchem deste translúcido fruto.
Por isso na manhã de domingo, depois de ser acordada pelas andorinhas que chilreavam no beiral do meu quarto, mesmo antes de tomar o “café” (o pequeno-almoço) fui à adega em busca de uma cesta.
Subi até ao quintal do Sr. Armindo e deliciei-me a apanhar as ditas ginjas que com vocês partilho.
A árvore estava carregada e as ginjas mesmo no ponto de rebuçado. Esta a precisar ser limpa. Terei de tratar dessa parte na altura da poda porque o Sr. Armindo está a ficar cansado e já não lhe liga muito.
Que alegria vão sentir os meus colegas de trabalho a quem prometi ensinar a fazer ginginha. Para além de lhes dar a receita da minha mãe levo-lhes também as ditas ginjas. Faremos uma boa "pomada".
Já agora deixo a receita, para quem precisar.
Ginja q.b
Aguardente q.b
2 paus de canela
Açúcar amarelo
Lavar muito bem as ginjas e colocá-las numa garrafa. Bonita de preferência, ou mesmo numa linda garrafa de licor que ande lá por casa. Seguidamente adicione o açúcar amarelo por cima das ginjas, pelo menos até ter uma altura de 4 dedos, e coloque também os dois paus de canela. Por último, deite a aguardente por cima, até encher praticamente a garrafa e caso não tenha aguardente de reserva deixe um pedaço para que ao longo de um ano possa encher um pouco mais atendendo a que o açúcar se irá dissolver.
Não mexa, nem agite! Deixe repousar e esperar para provar, mas só daqui a um ano!

Julho de 2009


 [1] Esta palavra soa ao meu avô Zé António. É bom tê-lo ao ouvido de vez em quando. Agradeço-lhe de coração tudo o que me transmitiu e ensinou.

terça-feira, 5 de abril de 2011

O Outono - amostra de painel cerâmico (120x60)

Tudo começou ainda no Outono que lhe serviu de inspiração.



















Mas só com a Primavera terminou.


Agora ... projecta-se um jardim tridimensonal. 

O azulejo - resultado final

Demorou a vidrar ... mas foi ... e aqui está o resultado final

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

REVISITANDO CASTELO BRANCO: Da azeitona ao azeite

REVISITANDO CASTELO BRANCO: Da azeitona ao azeite: "Autor: Aida Freitas Ferreira “Quem azeite colhe antes de Janeiro, azeite deixa no madeiro” “Quem colhe azeitona antes do Natal, deixa met..."